13/2/2023

#1 - Escrever é um modo de viver.

O ato da escrita se combina entre a leitura e nossas vivências — ambas alimentam e enriquecem nossas ideias; escrever é organizar aquilo que absorvemos, é também projetar no papel e dar camadas de sentido e compreender profundamente sobre aquilo que nos estamos debruçando.
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Te desafiamos a refletir uma vez por semana sobre temas cotidianos tirados de sua normalidade. Se você veio procurando receitas de vida, saia agora! Acreditamos no desenvolvimento de ideias próprias e do pensamento livre e crítico. Não trabalhamos com verdades absolutas nem com fórmulas prontas. Aqui somente desenhamos ideias. Falamos sobre filosofia desde o lugar em que ela nasceu: nas conversas informais na rua, nos problemas do dia a dia. Viver é fazer filosofia. Seja bem-vindo.

Eu sou o Francisco e também o Chico e o Chiquinho. Eu olho pro mundo e questiono ele, aberto a receber todas as possíveis respostas que ele pode me dar.
Eu sou a filosofia que estudo e vivencio, sou as pessoas que me atravessam e sou ainda a criança que eu espero que nunca saia de mim. Sou meus escritos e minhas leituras, sou o amor aos meus pais e a meu irmão, a minhas amizades e a mim mesmo.
Assim, sou muitas coisas e fui outras: ainda serei, espero.
O que sou hoje me faz querer transmitir conhecimento às pessoas, expressar minhas verdades (que são bem fluídas) e aprender com todo aquele que eu conversar. Quero ajudar os outros a encontrarem suas verdades e no caminho também procurar a minha.

Edição dessa semana:

#1 - Escrever é um modo de viver.

Investimento: 

5min

“Um bom livro é aquele que nos impele ao ato da escrita.”

(Jorge Luis Borges, escritor e filósofo argentino do século XX)

A relação da escrita com a leitura

Após ter lido os contos de Edgar Allan Poe, escritor estado-unidense do séc. XIX, eu me senti tão extasiado pelo que havia visto naquelas páginas que assim que emergi do livro, sai correndo a procura do meu caderno velho que tinha em minha gaveta, da caneta bic sem tampa e comecei a rabiscar o meu próprio conto.

A reação que tive foi totalmente impensada: eu nunca antes tinha me proposto escrever relatos daquele tipo, mas me senti tão inspirado pelo que li que mecanicamente me sentei na cadeira e escrevi sem parar por horas.

Muitos anos depois disso ter acontecido me coloco à frente do computador com a proposta de pensar sobre o que é a escrita pra mim e percebo vagamente que a escrita pressupõe a leitura, ou seja, que escrever é um ato que nasce da leitura. Porra, isso pode parecer simples, mas não é!

No tempo que passou desde meu primeiro escrito literário em que eu nem barba tinha, muitas leituras me atravessaram e me fizeram pular direto das páginas dos livros ao computador ou às folhas de um caderno sem pauta. Às vezes uma simples frase podia me fazer passar horas escrevendo sobre ela ou sobre o que ela remetia, às vezes uma palavra, às vezes um personagem.

Para escrever é preciso vivenciar!

Só que escrever não se trata somente de absorver as informações de um livro. Dessa forma é como se não saíssemos das palavras e o que escrevemos está sempre sujeito ao que lemos, de forma que assim parece que não criamos nada realmente mas somente replicamos pensamentos alheios.

Falamos anteriormente que escrever pressupõe a leitura mas não deixaremos de ser enfáticos ao dizer que a escrita também pressupõe a vivência — talvez de uma forma muito mais intensa. Se colocar no mundo e olhar para ele com olhos perscrutadores, procurando os detalhes e criando reflexões próprias sobre o que vemos, tentando ver além daquilo que nos é entregue pela realidade nua é ter a atitude de um escritor sincero.

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer era ainda mais radical e dizia que “a leitura não passa de um substituto do pensamento próprio”, ou seja, que ler desenfreadamente seria de alguma forma fugir da responsabilidade de pensar por si mesmo. Ele defenderá ainda que o verdadeiro conhecimento, o qual nos propicia ideias próprias, é aquele que se encontra no livro do mundo, ergo, nas experiências.

Escrever não é um hábito!

O ato da escrita se combina entre a leitura e nossas vivências — ambas alimentam e enriquecem nossas ideias; escrever é organizar aquilo que absorvemos, é também projetar no papel e dar camadas de sentido e compreender profundamente sobre aquilo que nos estamos debruçando.

A escrita não é um hábito mas uma forma de colocar-se no mundo. Gabriel García Marquez, escritor colombiano mundialmente conhecido, bem o sintetizou no título de sua autobiografia:

“Vivir para contarla”

Esta frase pode reduzir-se a: A vida é relato. Assim tudo o que vivencio e leio conforma um edifício que se consolida na pratica da escrita, pois aquele que escreve se relaciona com os elementos do cotidiano de uma forma intrigante: transfigurando os eventos, desenhando linhas fictícias ou adentrando de forma intensa a assuntos banais e cotidianos os quais passam desapercebidos.

Nesta newsletter escreverei desde minha experiências e minha visão de mundo, que procura ser múltipla, consciente, que se reconhece limitada mas procura o alimento continuo da vida e dos livros.

Vai pro sebo mais próximo da tua casa ou pega um pdf mesmo! Aqui é a seção:

Bota o cérebro pra trabalhar com a leitura hardcore da semana!

Em toda edição organizamos uma coletânea de três recomendações que envolvem: podcast, música e filme ou série, que procuram ser relacionados com o tema da edição da semana, mas que também podem ser aleatórios e serem super legais para refletir um pouquinho.

Podcast 🎙️

Essa semana ouvi um episódio muito foda do Filosofia Vermelha, que é um Podcast de filosofia, política e psicanálise. Vou deixar aqui o ep. que eu ouvi, mas deem uma olhada no conteúdo porque é bom demais!

Filosofia Vermelha - Para que serve a Filosofia?

Música 🎵

Já que na edição dessa semana falamos em escrita, vou deixar aqui uma playlist de sons no piano, com músicas que me ajudam na hora de pegar aquela emoção pra escrever um textin.

Spotify Playlist - Piano Influencias

Filme ou série 🎥

A escolha dessa semana vai ser por um filme que também envolve a escrita. Essa escolha é de um clássico do cinema que eu revi setessentas vezes pela força que esse filme tem. Procurem notar como a escrita se faz presente na vida do protagonista constantemente. O filme é atemporal, sinceramente um dos meus filmes favoritos.

Taxi Driver - Netflix

Uma frase pra que tu anote no teu caderninho de escritos, da Clarice Lispector!

"Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida."

Clarice Lispector

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O que me agrada é pensar que existe para cada pessoa que está no mundo uma filosofia; que a partir de sua individualidade possa refletir e escolher, assim tentando aproximar-se à sua própria verdade.
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O jogador desce as escadas que dão ao estádio. Lhe invade uma ânsia de vomito e sente o seu estômago soltar-se, como que desprender-se do seu corpo. Tal qual uma nota musical que aparece em meio ao silêncio o jogador se faz notar na quadra: ele é este ator que apresenta-se ao cenário, os holofotes o iluminam, os aplausos o elevam, ele está agora à vista, está exposto.
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Haverá alguma forma de filosofar sobre o basquete? Há alguma forma de respondermos às problemáticas humanas a partir de uma reflexão do jogo de basquete? Quando jogam, as pessoas dizem esquecer-se de todos os problemas, de por alguns momentos terem a impressão de que estão em alguma outra dimensão, em outro plano… mas… não será o próprio basquete uma forma de lidar com a vida ao invés de escapar-se dela? Não será o basquete já nossa vida e nele não estaremos também procurando resolver e compreender os problemas que nos esperam do outro lado das linhas que delimitam o templo que é a quadra de basquete? Assim como o jogo de basquete que se joga em seus quatro quartos, eu pretendo pensar o basquete em 4 textos e mais um, o Overtime.
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