Te desafiamos a refletir uma vez por semana sobre temas cotidianos tirados de sua normalidade. Se você veio procurando receitas de vida, saia agora! Acreditamos no desenvolvimento de ideias próprias e do pensamento livre e crítico. Não trabalhamos com verdades absolutas nem com fórmulas prontas. Aqui somente desenhamos ideias. Falamos sobre filosofia desde o lugar em que ela nasceu: nas conversas informais na rua, nos problemas do dia a dia. Viver é fazer filosofia. Seja bem-vindo.

Eu sou o Francisco e também o Chico e o Chiquinho. Eu olho pro mundo e questiono ele, aberto a receber todas as possíveis respostas que ele pode me dar.
Eu sou a filosofia que estudo e vivencio, sou as pessoas que me atravessam e sou ainda a criança que eu espero que nunca saia de mim. Sou meus escritos e minhas leituras, sou o amor aos meus pais e a meu irmão, a minhas amizades e a mim mesmo.
Assim, sou muitas coisas e fui outras: ainda serei, espero.
O que sou hoje me faz querer transmitir conhecimento às pessoas, expressar minhas verdades (que são bem fluídas) e aprender com todo aquele que eu conversar. Quero ajudar os outros a encontrarem suas verdades e no caminho também procurar a minha.
Edição dessa semana:
#11 - Seja Ridículo
Investimento:
O amor não está na bolsa de valores…

“Deixo de lado os porquês, os comos, as justificações, já não quero me justificar nem interpretar nem refletir sobre o que eu disse o que eu não disse, só preciso da liberdade, isso é tudo.”
Eu
O que é uma carta de amor?
Uma carta de amor é uma confissão ridícula. Tu já enviou uma carta de amor?
A natureza da carta de amor é contraditória.
Carta. { A carta tem uma razão específica de ser, que é comunicar algo a um destinatário, dai a carta ser uma correspondência como comunicação direta entre dois interlocutores. O remetente está na posição de informante, de comunicador, de agente ativo. É quem envia a carta que pretende algo, pois o receptor é somente um fantasma até então, ele não existe se não enquanto possibilidade, tanto de interpretação quanto de recepção da carta. }
Carta de amor. { A carta de amor não informa nada a quem a recebe; a informação na carta pressupõe uma utilidade e uma alteração: quero que saibas de algo que me parece que seja importante a ti e isto alterar algo em ti. O enamorado não quer informar nada de útil ou importante ao leitor, o amor serve a ninguém, é o amor pelo amor; portanto, está ai conformada a contradição de uma carta de amor, que é por si, inútil, pois anula a principal razão da carta que é informar. }
As cartas de amor e suas motivações
Fernando Pessoa disse que todas as cartas de amor são ridículas e sendo justos com a origem das palavras, define-se o ridículo como aquilo que é risível, mas também, aquilo que é insignificante; de valor irrisório; de pouco ou nenhum valor.

Qual é a aspiração da carta de amor? (a pergunta-sombra {uma pergunta-sombra é uma pergunta implícita na pergunta} é: quais são as necessidades que nos fazem escrever uma carta de amor?)
1. A carta de amor como esquiva da solidão {Saudade}
A carta de amor como fuga da solidão trata de mim. A falta do objeto de nosso desejo amoroso é de uma solidão extrema, podemos pensar no termo brasileiro “Saudade” como aquele que reduz e combina toda a sensação de solidão extrema com o desejo de estar com a pessoa. Dizer “sinto saudade de ti” é deixar de dizer que nos sentimos sozinhos longe daquele pessoa, que o esquecimento desaparece com a memória constante dela e que desejamos estar ao seu lado mais do que tudo, então escrevemos uma carta de amor e reduzimos todos estes sentimos a esta palavra: saudade. {em uma letra do Belchior
O que a palavra saudade representa para ti?
Em minha concepção, o que pretendo em uma carta de amor é trazer mais perto ao outro. Percebi isto vagamente, quando certa vez escrevi em uma carta de amor o seguinte: “Não quero abandonar estas linhas que escrevo e talvez por isso eu descreva tantas coisas sem sentido…”. Hoje entendo que era através desses escritos que eu sentia que me aproximava da pessoa a quem eu destinava esta carta, e que ao escrever e contar-lhe as coisas que eu via e vivenciava eu sentia ela a meu lado.
Assim de violento é o amor, que torna o outro em um espectro que está em todo lugar. Não há folha, pedra, nuvem ou inseto que não me lembre algum gesto seu; para o enamorado o outro está em todo lugar**, o outro é o mundo.**
2. A carta de amor como expressão-libertação {Te amo e Te odeio}
Podemos pensar a libertação como expressão? Se não diretamente, indiretamente com certeza. A liberdade estimula a expressão e a expressão a liberdade.
O amor exige expressão; sim, uma expressão infinita de coisas que não compreendemos. Esta necessidade é verídica? Sei lá… acho que o amor cria inúmeras necessidades e a de expressão talvez seja a mais bela e múltipla de todas. Há expressões que parecem ser verídicas e outras condicionadas, mas confirmemos uma coisa: no amor, seja da forma que for, há expressão.
Quando em uma das enquetes do Instagram em que perguntei: o que é amor? responderam “o amor é liberdade”; eu por longo tempo pensei: por que liberdade? E finalmente entendi, através da literatura das cartas de amor, da expressão que nada diz, mas que libera, que dá vazão, que é através da expressão que podemos nos libertar daquilo que está dentro de nós, expressar… temendo ou não, mas expressar para liberar, algo assim como um expressar-libertar.
E esta expressão-libertação, que se refere a um sentimento que arde e pulsa dentro de nós, não necessariamente precisa ser bela e positiva, como também pode ser de revolta, de sentimento de injustiçado, como o foi a carta de Oscar Wilde a seu amante, ou uma carta de despedida.
Assim como a libertação pode se resumir a um te amo também pode se resumir a um te odeio. A linguagem está limitada a estas expressões que tentam especializar o desejo de cada pessoa em uma imagem comum.
A carta de amor é algo para nós mesmos?
Em parte sim e por outra não. Freud escreveu milhares de cartas para sua Martha Bernays, pela qual era perdidamente apaixonado. Roland Barthes, em seu “Fragmentos de um discurso amoroso” fala sobre como Freud ao escrever as cartas esperava a devolutiva e como a carta de amor “impõe implicitamente ao outro de responder.”
Concordo em parte… não acredito que a devolutiva seja condicionante. Quando eu escrevi minhas cartas de amor eu sequer sabia se iria enviá-las e quando decidi de fato enviá-las o fiz por que senti que aquilo pertencia à outra pessoa também, pois o amor envolve aos dois.
“Se eu te amo, é que és amável. Sou eu quem ama, mas tu, tu também estás implicado, posto que há em ti algo que faz que te ame. É recíproco porque há um ir e vir: o amor que tenho por ti é o efeito de retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, algo tu tens que ver. Meu amor por ti não é só assunto meu, senão também teu. Meu amor diz algo de ti que quem sabe tu mesmo não conheças.” J.A Miller
Lacan fala sobre as cartas de amor roubadas, aquelas que são escritas mas jamais enviadas, que são cartas que referem-se à esta libertação de algo que gostaríamos de dizer ao outro mas que jamais chegam a seu destinatário, portanto, não pressupõem a devolutiva. O ato da escrita, esta espécie de ab-reação, trata de dar vazão aos afetos: a escrita é libertadora per si.
“As cartas de amor
são ridículas, mas, afinal
só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor
é que são Ridículas (…)”
As cartas de amor são confissões ridículas pois elas não possuem nenhum valor. Falei estes dias em meu Instagram sobre tirar o amor da escala de valores, pois o amor não possui nenhum valor; o valor mensura a validade das coisas, a importância, e pensar o amor como passível de avaliação de valor, de ponderação, me parece uma piada.
Não escolhemos enviar cartas de amor, elas sozinhas se escrevem e se reescrevem todos os dias. Não tenho outra escolha a não ser expressar o que sinto, pois se o reprimo, adoecerei. Nenhuma carta de amor se perde no tempo, elas são atemporais pois falam do que é mais urgente ao enamorado.
Aquele que escreve uma carta de amor não tem outra saída a não ser voltar àquilo que o fez iniciar aquele escrito: o sentimento insuportável que o invade e que ocupa seus pensamentos. Mas quem se senta a escrever uma carta de amor, seja ela elogiosa, de despedida ou o que for, estará transcrevendo (ou tentando) os sentimentos que o invadem.
Daí compreensão como pilar para toda interação de nós com o mundo e com os outros; de tentar compreender o que sentimos e como o sentimos, para maximizar nossa experiência e alimentar nossa alma, para compreendermos o que fazemos do amor e o que ele faz da gente.

Vai pro sebo mais próximo da tua casa ou pega um pdf mesmo! Aqui é a seção:
Bota o cérebro pra trabalhar com a leitura hardcore da semana!

A leitura da semana é esta obra maravilhosa do Roland Barthes que vem me encantando em cada página que leio.
”Barthes coleta diversos marcos fundamentais da experiência amorosa e traça uma análise fria, científica e cínica dessa vivência tão familiar a todos os seres humanos.
O que estimulou Barthes a elaborar essa leitura analítica foi a percepção de que “o discurso amoroso é hoje de extrema solidão”. Ao afirmar isto, Barthes indica que, enquanto discurso, o amor esteve sempre solitário pois lhe faltou um estudo apropriado dos seus procedimentos e das influências que exerce nos sujeitos que dizem estar sob sua influência. O discurso amoroso se formatou, se delimitou e criou seus recursos narrativos ‘por sua própria força’.”
Se quiserem saber mais sobre a obra vão nessa matéria. Muuito boa!

A leitura da semana é esta obra maravilhosa do Roland Barthes que vem me encantando em cada página que leio.
”Barthes coleta diversos marcos fundamentais da experiência amorosa e traça uma análise fria, científica e cínica dessa vivência tão familiar a todos os seres humanos.
O que estimulou Barthes a elaborar essa leitura analítica foi a percepção de que “o discurso amoroso é hoje de extrema solidão”. Ao afirmar isto, Barthes indica que, enquanto discurso, o amor esteve sempre solitário pois lhe faltou um estudo apropriado dos seus procedimentos e das influências que exerce nos sujeitos que dizem estar sob sua influência. O discurso amoroso se formatou, se delimitou e criou seus recursos narrativos ‘por sua própria força’.”
Se quiserem saber mais sobre a obra vão nessa matéria. Muuito boa!

Em toda edição organizamos uma coletânea de três recomendações que envolvem: podcast, música e filme ou série, que procuram ser relacionados com o tema da edição da semana, mas que também podem ser aleatórios e serem super legais para refletir um pouquinho.
Música 🎵
A música é uma das expressões mais catárticas do amor. Se há uma linguagem possível para explicar o que sentimos quando amamos, essa linguagem está na música.
Ouçam com precaução, pode gerar gatilhux hehe!

Poesia ❤️
Coletei três poesias que acho incríveis sobre cartas de amor e gostaria demais que vocês lessem!
Lá vão elas:
Ler



