3/4/2023

#8 - A sedução das redes sociais

Falamos sobre como as redes sociais nos seduzem e nos fazem ser reféns de horas e horas em suas plataformas. A sedução se realiza por um mecanismo que envolve mistério e resolução; as redes sociais, tais como o instagram, provocam seus usuários com uma sensualidade nas postagens, a intenção é de provocar um impulso no espectador, um despertar de alguma paixão que o leve ao lugar que se quer, tudo isto fala sobre mistério e seu poder sobre nós.
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Te desafiamos a refletir uma vez por semana sobre temas cotidianos tirados de sua normalidade. Se você veio procurando receitas de vida, saia agora! Acreditamos no desenvolvimento de ideias próprias e do pensamento livre e crítico. Não trabalhamos com verdades absolutas nem com fórmulas prontas. Aqui somente desenhamos ideias. Falamos sobre filosofia desde o lugar em que ela nasceu: nas conversas informais na rua, nos problemas do dia a dia. Viver é fazer filosofia. Seja bem-vindo.

Eu sou o Francisco e também o Chico e o Chiquinho. Eu olho pro mundo e questiono ele, aberto a receber todas as possíveis respostas que ele pode me dar.
Eu sou a filosofia que estudo e vivencio, sou as pessoas que me atravessam e sou ainda a criança que eu espero que nunca saia de mim. Sou meus escritos e minhas leituras, sou o amor aos meus pais e a meu irmão, a minhas amizades e a mim mesmo.
Assim, sou muitas coisas e fui outras: ainda serei, espero.
O que sou hoje me faz querer transmitir conhecimento às pessoas, expressar minhas verdades (que são bem fluídas) e aprender com todo aquele que eu conversar. Quero ajudar os outros a encontrarem suas verdades e no caminho também procurar a minha.

Edição dessa semana:

#8 - A sedução das redes sociais

Investimento: 

7 minutos

O que te seduz?


Mais uma edição chega à tua caixa de e-mail e mais uma vez teus olhos vão percorrer as linhas que me dediquei a escrever a ti, a mim, a nós, e ao meu projeto. Esta nossa relação, de um que escreve e outro que lê, é inevitavelmente uma relação sedutora, e como não seria?

A palavra sedução vem do latim “seducere” que significa “trazer para o lado” ou desencaminhar. Ainda, o verbo “seduzir” se refere ao ato de inclinar-se, de forma artificial, para o mal ou para o erro, desencaminhar, enganar ardilosamente… Mas calma, não quero te levar pro mal caminho… ou quero? (hehe)

Antes de qualquer coisa vamos primeiro desassociar essa conotação medieval do “seducere” como sendo aquilo que nos desvia do “bom caminho” - que é o caminho religioso - e nos impele a um caminho regado de prazeres da carne e satisfação de desejos que nos desviam da virtuosidade; a real é que hoje vivemos em um mundo que nos estimula a cada segundo e o estimulo só se provoca mediante algo que nos seduza.

Para te trazer até aqui, eu precisei te seduzir de alguma forma (não to dando em cima de ti, tá?) e essa sedução fala sobre ser despertado um desejo e sobre mais uma coisinha que eu acho que é a grande arma da sedução: o mistério.

As entranhas do mistério

O mistério fala sobre aquilo que está oculto e é incapaz de ser visto ou compreendido completamente. Há um véu que o encobre e que censura a totalidade de sua composição. Vou ser polêmico: O mistério não se resolve, não há resolução de nenhum mistério verdadeiramente (mais à frente vou te explicar por que acho isso). Além disso, ele não pretende ser resolvido, mas se move entre esta tensão do ímpeto à resolução e da sua incompreensão pré-ejaculatória.

A graça do mistério esta na tensão do saber e do não-saber, pois quando alcançamos o saber, o desejo se realiza, o orgasmo tão perseguido é alcançado e assim o interesse se esfuma, a perseguição acaba: já não há o que caçar.

Sim, eu tô fazendo um paralelo entre o sexo e o mistério e não é sem motivos. O mistério está relacionado com o que há de mais passional em nós, talvez com o que há de mais instintual e primitivo; falo desta natureza que nos atravessa e que nos provoca um movimento: e claro, isto é o desejo, novamente esta alavanca do mundo, esta chama que faz tudo andar e arder: tudo é desejo nessa porra!

Algo interessante: No mistério há um jogo sendo travado.

Freud relata uma brincadeira comum das crianças em fases iniciais que é a de atirar um objeto longe e ter de procurá-lo. Ao encontrar o objeto, ela irá querer fazer isto novamente, e mais uma vez, pois a diversão deste ato está no processo e não na realização de achá-lo. Assim é também com o mistério, que é sempre prévio à realização.

Freud
O papai Freud fumando seu charutinho

As redes sociais e seu mecanismo de sedução

Esta brincadeira na qual o mistério se faz o grande motor do ato repetitivo e viciante da criança é também o mecanismo utilizado pelas redes sociais para prender-nos horas a fio em suas presas de seda. Falo em presas pois parece que ela nos encarcera mas não totalmente, dai a parte de serem de seda: pois há a possibilidade de saída, de deslocamento; o paradoxal é que atualmente nós nunca saímos totalmente destas presas, vivemos dentro das redes que nos emaranharam completamente e tudo o que vemos é mistério e tudo o que queremos é solucionar estes mistérios movidos por um desejo que parece interminável.

A pornografia velada

O mistério nas redes sociais é previsível mas totalmente versátil, minuciosamente aplicado para fisgar sempre a carne do espectador; há algo que nos impele a entrar naquele link que nos promete “O segredo para se tornar milionário” ou “Como consigo conquistar todas as mulheres que quero”.

Assim como a pornografia, a rede social funciona de um jeito bem parecido: nos motiva incessantemente um desejar instintivo, sem questionamento; é suprimir o desejo ou nada.

Uma notificação é misteriosa em sua composição, a vibração do celular desperta mistério, se eu não olhar para a tela então o mistério não se realiza, é como o olhar para o escuro, ele está lá, ele não me espera, sou eu que o crio, eu o imagino, eu o edifico sob minhas vivências e minhas questões.

Todo dia somos levados pelos nossos desejos a estas misteriosas páginas que nos prometem o oculto, o cifrado e o indecifrável; a internet é este esconde-esconde febril em que todos estamos inseridos; todos jogamos, mas jogamos na simulação, pois o mistério, já falamos, não tem pretensão de realizar-se.

Mas há um problemão neste jogo interminável: 1. Que isto nos causa uma ansiedade enorme (ansiedade é a angústia com o porvir) e 2. Que o mistério se banalizou. Braudillard, filósofo francês, vai fazer uma denúncia à massificação da sedução. Ele sugere que, em um mundo em que tudo é simulado e as imagens são produzidas em massa, a sedução perdeu sua capacidade de criar desejo autêntico e transformou-se em um simulacro vazio e superficial.

Braudillard
Braudillard só no cigarro

De todos os mistérios, O mistério

Por mais que Sherlock Holmes, essa figura patética (e aqui o patético fala daquele que causa comoção emocional em outros), resolva todos estes mistérios que pareçam insolúveis, seu próprio mistério é indecifrável a ele; toda esta procura por resolver mistérios remete ao nosso interior: estamos é querendo nos resolver, resolver o nosso grande mistério.

Como naquele filme “A ilha do terror” em que o detetive que persegue em um hospital psiquiátrico uma interna que se escapou, e acaba descobrindo, ou tendo a ilusão de descobrir, que ele na realidade é um dos internos do hospital. Este filme remete a esta ilusão que vivenciamos das realizações de mistérios cotidianos, somos como este detetive, que entra em uma procura descomedida onde na realidade ele estava era procurando a si mesmo, tentando resolver-se, achar-se.

Como já o disse antes: o mistério não quer se resolver, ele é eterno, atemporal. Portanto, ele se alimenta de si mesmo, e assim é com as redes sociais: nada nunca se resolve ali, há um itinerário infinito de mistérios cíclicos que nos prometem a supressão, o prazer, a felicidade, o positivo.

Nietzsche se perguntava se por trás de todas as máscaras que vestimos se haveria uma face verdadeira, final. Nós, questionamos se por trás de todos estes mistérios, que são como que simulações, haverá o mistério final, o mistério que resolva todos os outros mistérios e que nos liberte desta roda infindável dos mistérios.

Vai pro sebo mais próximo da tua casa ou pega um pdf mesmo! Aqui é a seção:

Bota o cérebro pra trabalhar com a leitura hardcore da semana!

Jean Baudrillard, filósofo francês, abordou o tema da sedução em vários de seus escritos, principalmente em sua obra intitulada "O Sistema dos Objetos". Para Baudrillard, a sedução é um processo que está presente em todas as esferas da vida social, desde a interação entre pessoas até a publicidade e o marketing.

Jean Baudrillard, filósofo francês, abordou o tema da sedução em vários de seus escritos, principalmente em sua obra intitulada "O Sistema dos Objetos". Para Baudrillard, a sedução é um processo que está presente em todas as esferas da vida social, desde a interação entre pessoas até a publicidade e o marketing.

Em toda edição organizamos uma coletânea de três recomendações que envolvem: podcast, música e filme ou série, que procuram ser relacionados com o tema da edição da semana, mas que também podem ser aleatórios e serem super legais para refletir um pouquinho.

Música 🎵

As vezes eu me inspiro nas músicas. Falamos em sedução, e sinceramente, essas músicas me seduzem demais.

"True", Spandau Ballet, no Spotify

Não falei sobre esse aspecto do mistério no texto mas trago aqui na secção Questione. Nós tememos resolver alguns mistérios, principalmente no tocante a mistérios interiores nossos. A questão é a seguinte:

Se te fosse possível desvendar algum mistério o qual tu tenhas muito interesse em saber, tu o farias?

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O que me agrada é pensar que existe para cada pessoa que está no mundo uma filosofia; que a partir de sua individualidade possa refletir e escolher, assim tentando aproximar-se à sua própria verdade.
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Haverá alguma forma de filosofar sobre o basquete? Há alguma forma de respondermos às problemáticas humanas a partir de uma reflexão do jogo de basquete? Quando jogam, as pessoas dizem esquecer-se de todos os problemas, de por alguns momentos terem a impressão de que estão em alguma outra dimensão, em outro plano… mas… não será o próprio basquete uma forma de lidar com a vida ao invés de escapar-se dela? Não será o basquete já nossa vida e nele não estaremos também procurando resolver e compreender os problemas que nos esperam do outro lado das linhas que delimitam o templo que é a quadra de basquete? Assim como o jogo de basquete que se joga em seus quatro quartos, eu pretendo pensar o basquete em 4 textos e mais um, o Overtime.
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